-Uma cidade se
define por sua materialidade (volume, espaço, superfície), lugar de sociabilidades (relações sociais, personagens, grupos, práticas de
interação e oposição) e da construção de sensibilidades (atribuição de valores
ao urbano) estas características e inaugura
novas sensibilidades pela experiência das multidões e do aglomerado urbano, mas
também porque se apresenta como potência desnaturalizadora e produtora de vida.
A “cidade” é uma construtora de razões e
sensibilidade perante o mundo “moderno” no qual se constitui a sociabilização (de
varias maneiras), as construções dos valores, existentes ou novos ou remoldados,
pela sociedade que se caracteriza pelas constantes mudanças, para adaptar-se ao
mundo que é criado aos seus olhos. Segundo Maria Stela Brescian este
“remodelar” da sociedade moderna do século XIX se caracterizou por um esboço de
uma nova sensibilidade, assim uma “utopia” foi designada sobre uma realidade
que se mostrava magica aos olhos, porem teve seu poder decaído com o rumo que esta
modernidade tomava.
Essa nova realidade querida a todo custo não
teve sua real potencialidade calculada, pois essa realidade veio não só
desenfreada, mas como uma inovação a seu deslumbramento “assustador” a quem o
presenciava e não detinha o conhecimento sobre ela. Assim essa inovação mostra
o desenraizamento com a natureza e o enraizamento com o meio urbano,
proporcionados pela mecanização e pela industrialização, que mexeram não só com
o simbólico, mas com o imaginário moldando assim, mentes e corações.
Os mecanismos inovadores que constroem o
social, o material e o sentimental, se demostram além de transformadores, se
moldam estruturantes como a base desta nova sociedade, a cidade que controla e
dita o social das pessoas que aparentam uma aceitação porem, não só em seu subconsciente
como intelectualmente e psicologicamente uma critica expressadas nas perdas com
a normatizações postas ao homem que tem condições e conceitos remodelados sobre
a vida e o trabalho. Isso repercute no filme Luzes da cidade onde gira a historia de um homem que não esta
integrado a modernidade, pois sua condição é a da pobreza, pois a imposição desta
sociedade é que este trabalhe e tenha um ”status” social, e este não demostra
se preocupar com as regras desta nova sociedade, pois não tem estabilidade e é
constantemente “punido” pela sociedade que o cerca desde a agressão, o descaso
e a “rejeição”, mostrando em contrapartida no homem milionário seu oposto, bem
sucedido, com uma bela moradia, porem sem felicidade desejando a morte, e
bebendo para esquecer seus problemas. Iniciando um processo de marginalização
da sociedade que não era de fato aquela considerada como povo.
Esta nova construção do social sobre o povo se vê inovador porem não atinge seu total, e por muitas vezes castiga os que não tem a condição de
adaptar ao moderno. No qual dá meios propícios para a sociabilização, desde
ditando regras das relações sociais, impondo o papel a ser desempenhado ao
publico e ao privado, na formação dos grupos e nas práticas de interação com o
outro e a oposição a praticas ditadas erradas e não condizentes a realidade
proposta pela modernização. Assim essa cultura da modernidade reesignifica o
sentido de cidade e o espaço urbano, a partir das grandes mudanças.
A cidade passa de mero cenário para ser protagonista na vida social, com
as novas sensibilidades a cidade, que antes era um espaço de civilidade, passa
a ser mais do que foi proposto pelos “ditos modernos” assim ela passava a
deixar a civilidade de lado, não completamente, mas com o inicio das multidões
uma nova mentalidade se cria e novas formas começam a produzir a vida, que não
tem o mesmo sentido que outrora.
Neste sentido acidade passa a congregar
inúmeros estilos e tendências que fazem surgir inúmeras sensibilidades e
relações sociais distintas entre si. A autora coloca a cidade a metrópole e a
maquina como um “trinômio”, que causou fascínio e medo. A desnaturalização
ocorre com a desvinculação do homem com natureza, onde sua dependência era
maior só que com respeito porem nestes tempos modernos o homem se sobrepõem
sobre uma possível vitória na qual visualiza transformar a natureza a seu bel
prazer sem levar em conta os perigos que o cercam. Com a subestimação a
natureza e sua desvinculação o homem começa a ser regrado pelo meio urbano suas
perdas são notáveis, como no tempo, no trabalho e no sistema de tal modo que
esses novos valores são aplicados ao cotidiano social.
De tal modo que ficam explícitas as perdas, de
exemplo o tempo que antes era regido pela natureza, é modificado passando a ser
linear, abstrato e uniforme, cuja função é regrar a relação do patrão e
empregado e/ou delimitar um tempo que se adeque ao social de cada homem. Tal tempo aparece no filme implícito na parte
em que o sujeito pobre, trabalha de gari e tem um tempo para trabalhar,
almoçar, o intervalo e ir embora. Começa a controlar a sociedade a partir de
pequenas intervenções do estado. O homem que agora tem sua vida regrada tende a
criar sensibilidades atribuindo valores ao meio urbano e ao próprio tempo.
Na questão do trabalho começa a inversão dos
papéis em que só o homem trabalha e a mulher deveria ficar em casa, para ambos
tornarem-se produtos do trabalho, mecanismos de difícil controle, porem as
inferioridades são sempre exaltadas, inicia-se a construção de multidões e de
aglomerados urbanos, que se apresentam como produtores de vida e com elevado
potencial de possíveis revoltas sendo vistos com ameaçadores. As sensibilidades
contrapõem a razão da beleza idealizada do homem.
Portanto, a cidade moderna tanto desejada era
um arquétipo idealizado por muitos porem seus meios não foram bem calculados,
os fins se mostraram preocupantes e w tornaram constantemente criticados, a
cidade que outrora era meio de civilidade se tornou a partir do século XIX um
local de contradições, produtores de inúmeras formas e modos, passando de do
meio material para tornar-se construtora de sensibilidades que se demostraram
diversas, diversificadas e contraditórias ao que era previsto e por fim o homem
se remoldou as necessidades da cidade e criaram novas razões, interações,
valores assumindo um papel essencial para modificar a sociedade a seus novos
padrões.