quarta-feira, 23 de maio de 2012

"A africa e a escravidao" Lovejoy



           
Apesar de em cada região a escravidão possuir suas características específicas, uma delas pode ser encontrada na maioria, os escravos eram  vistos como “estrangeiros”, ou seja, diferenciavam-se em seus costumes, crenças, etnias ou qualquer outro fator que não os relacionassem com os seus senhores. Acreditavam que era mais fácil dominar um desconhecido do que seu próprio povo, apesar de ambos os casos acontecerem.
Na África a escravidão resultou em transformações tantos sociais, como políticas e econômicas, sendo que estes eram o principal produto do comércio exterior.  Dessa forma, o escravo era visto como mercadoria. Os escravos estrangeiros com o passar do tempo começavam a compreender e aceitar a cultura vivida pelo seu senhor. Aquele que nascia sob o jugo da escravidão não tinha a experiência traumática de conhecer a liberdade e perdê-la, nesse sentido a escravidão era herdada. Um escravo que tivesse vivido por um longo período no mesmo lugar poderia ter a sorte de ser considerados mais do que apenas uma mercadoria.
A escravidão conforme o texto, poderia se encontrar juntamente com outras formas de trabalho: que incluía a servidão, a clientela, o trabalho assalariado, o penhor e o trabalho comunal. A identidade do escravo se percebia através do seu senhor, já que este era responsável por cada ação de sua “propriedade”, entenda-se o escravo. Contudo, não havia uma classe escravista, pois para isto é preciso haver uma consciência de classe.
A vida inteira do escravo dependia dos seus senhores. Com quem se casariam, se teriam filhos, tudo isso era decidido pelo seu senhor. As mulheres podiam ser feitas suas concubinas ou esposas, dessa forma, os escravos poderiam ser encontrados em serviços domésticos ou sexuais. No caso dos serviços sexuais, a reprodução se direcionada para a economia já que os filhos poderiam ser vendidos ou negociados de várias formas, gerando dessa maneira alguma “receita” para o proprietário das escravas.
Há três características de escravidão que o autor destaca: primeiro a escravidão como uma característica marginal da sociedade, segundo como uma instituição e por fim como um modo de produção.
Outra forma de dependência era a penhora. Esse sistema previa que se um indivíduo tivesse alguma dívida ele poderia pagar com trabalho. Os laços de parentesco eram importantes, pois se esperava que algum parente do indivíduo devedor pagasse ao credor a quantia combinada. Por isso aqueles que acabavam por trabalhar para pagar a dívida, eram tratados de forma diferente que um escravo “comum”. As famílias eram geralmente conhecidas dentro desse tipo de sociedade, daí o respeito pelos penhorados. Legalmente nesse caso não se podia vender o indivíduo penhorado.
A princípio os escravos no seio da sociedade islâmica, eram prisioneiros das guerras em que os muçulmanos tratavam visando a expansão do Islã através da região do golfo Pérsico e norte da África. A justificativa para a escravização dos derrotados era que, como não eram seguidores de Maomé os infiéis deveriam ser doutrinados nas normas do Alcorão. Os escravos não eram necessariamente negros ainda que estes fossem a maioria. Judeus e cristãos eram os únicos a não serem escravizados. O fato de que a necessidade de escravos existia para os povos islâmicos, fez com que povos árabes buscassem na África esse tipo de mão-de-obra. Embora as leis islâmicas proibissem que um fiel fosse escravizado muitas vezes isso foi ignorado. Os escravos trabalhavam principalmente em fundações domésticas (incluindo sexuais), ou em serviços militares. Mas também podiam trabalhar na produção, como por exemplo, nas minas de sal.
A abertura do atlântico ao comércio na África proporcionou a esse continente um maior volume de transações escravistas, além de retirar a África de certo isolamento comercial e porque não cultural. A transformação que ocorreu internamente nos âmbitos escravistas acompanhou a procura européia por escravos, bem diferente do trato com os islâmicos.
Sabe-se que a escravidão se deu muito antes da chegada dos islâmicos na África, porém com o tempo a escravidão passou a ser uma instituição fundamental naquela sociedade.
Com essa expansão tornou-se possível usar os escravos de novas formas, trabalhando na escala de produção de bens, como o ouro, mercadorias agrícolas, manufaturados e o sal.
O autor explica que a influência islâmica, o comércio com os europeus e a própria relação interna de escravos, foi determinante no desenvolvimento da escravidão na África. Desse modo, a escravidão tornou-se uma instituição e não mais apenas uma característica periférica. Até o século XIX a escravidão foi determinante para mover as sociedades, em seus aspectos políticos, econômicos e sociais.
O autor confirma que a escravidão já existia na África o qual não existe provas de suas características, mas que a influência do Islamismo e do mercado europeu e muitos outros alteraram e desencadearam para um desenvolvimento políticos e econômicos que afetaram a prática da escravidão. Deste movimento surgiram sociedades escravocratas modificando a escravidão inicial. A África se torna uma rede internacional de escravidão, os africanos escravizavam os seus inimigos quando não existiam laços de parentesco o que favorecia os interesses do mercado externo que fortalecia o crescimento político de alguns africanos no continente. A ênfase é que os escravos não eram importados para África eles eram exportados. Que forma uma estrutura de fornecimento escravos para o mercado externo e o emprego interno na África.  A escravidão se relaciona coma escravização através do tráfico de e a utilização dos cativos na própria África. Escravos tratados como mercadoria e propriedade abasteceram o comércio exterior que era fundamental para economia política de muitas regiões do continente que se estendeu até o século XIX.   
A partir do texto de Lovejoy “A África e a escravidão” podemos tirar algumas conclusões. Um erro freqüente que ocorre no estudo do continente africano é associá-lo a escravidão, segundo o autor não devemos pensar que esta é a única forma de relação servil existente. A escravidão em si esta ligada diretamente a questão étnica e religiosa, sendo apresenta as relações patriarcal e do fator islâmico.
             Em geral a escravidão é colocada como uma forma que algumas sociedades tiveram de garantir a supremacia perante outros grupos étnicos e/ou religiosos. Por meio da violência, que se dividia entre guerras, banditismo e seqüestro, não que houvesse exceções. Para o autor a questão de escravidão segue a linha de pensamento de M.I.Finley, em que a escravidão passa de uma situação de status à um papel essencial na economia por meio do uso extensivo na produção. Assim podemos pontuar que a escravidão era direcionada para a manutenção da dominação econômica e política do grupo dominante. As escravidão estava associada a interação de um grupo étnico a outro, dominante. É importante salientar que a escravidão varia com relação ao grupo étnico e a região, e que diferenciam em algumas normas sociais.
            Porem a questão de dominação não estava apenas direcionado a economia e a política, mas também na questão cultural. Sabe-se que a escravidão no islamismo, também estava direcionada a prisioneiros de guerra e pessoas não-mulçumanos, dessa forma o islã via a escravidão como uma forma de converter outras etnias a religião mulçumana. Tanto nas sociedades ditas patriarcais, como islâmicas tentavam impor sua cultura. Assim a escravidão também era uma maneira de aculturação.

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