Apesar de em cada região a escravidão possuir suas
características específicas, uma delas pode ser encontrada na maioria, os
escravos eram vistos como
“estrangeiros”, ou seja, diferenciavam-se em seus costumes, crenças, etnias ou
qualquer outro fator que não os relacionassem com os seus senhores. Acreditavam
que era mais fácil dominar um desconhecido do que seu próprio povo, apesar de
ambos os casos acontecerem.
Na África a escravidão resultou
em transformações tantos sociais, como políticas e econômicas, sendo que estes
eram o principal produto do comércio exterior.
Dessa forma, o escravo era visto como mercadoria. Os escravos
estrangeiros com o passar do tempo começavam a compreender e aceitar a cultura
vivida pelo seu senhor. Aquele que nascia sob o jugo da escravidão não tinha a
experiência traumática de conhecer a liberdade e perdê-la, nesse sentido a
escravidão era herdada. Um escravo que tivesse vivido por um longo período no
mesmo lugar poderia ter a sorte de ser considerados mais do que apenas uma
mercadoria.
A escravidão conforme o texto,
poderia se encontrar juntamente com outras formas de trabalho: que incluía a
servidão, a clientela, o trabalho assalariado, o penhor e o trabalho comunal. A
identidade do escravo se percebia através do seu senhor, já que este era
responsável por cada ação de sua “propriedade”, entenda-se o escravo. Contudo,
não havia uma classe escravista, pois para isto é preciso haver uma consciência
de classe.
A vida inteira do escravo
dependia dos seus senhores. Com quem se casariam, se teriam filhos, tudo isso
era decidido pelo seu senhor. As mulheres podiam ser feitas suas concubinas ou
esposas, dessa forma, os escravos poderiam ser encontrados em serviços
domésticos ou sexuais. No caso dos serviços sexuais, a reprodução se
direcionada para a economia já que os filhos poderiam ser vendidos ou
negociados de várias formas, gerando dessa maneira alguma “receita” para o
proprietário das escravas.
Há três características de
escravidão que o autor destaca: primeiro a escravidão como uma característica
marginal da sociedade, segundo como uma instituição e por fim como um modo de
produção.
Outra forma de dependência era a
penhora. Esse sistema previa que se um indivíduo tivesse alguma dívida ele
poderia pagar com trabalho. Os laços de parentesco eram importantes, pois se
esperava que algum parente do indivíduo devedor pagasse ao credor a quantia
combinada. Por isso aqueles que acabavam por trabalhar para pagar a dívida,
eram tratados de forma diferente que um escravo “comum”. As famílias eram
geralmente conhecidas dentro desse tipo de sociedade, daí o respeito pelos
penhorados. Legalmente nesse caso não se podia vender o indivíduo penhorado.
A princípio os escravos no seio
da sociedade islâmica, eram prisioneiros das guerras em que os muçulmanos
tratavam visando a expansão do Islã através da região do golfo Pérsico e norte
da África. A justificativa para a escravização dos derrotados era que, como não
eram seguidores de Maomé os infiéis deveriam ser doutrinados nas normas do
Alcorão. Os escravos não eram necessariamente negros ainda que estes fossem a
maioria. Judeus e cristãos eram os únicos a não serem escravizados. O fato de
que a necessidade de escravos existia para os povos islâmicos, fez com que
povos árabes buscassem na África esse tipo de mão-de-obra. Embora as leis
islâmicas proibissem que um fiel fosse escravizado muitas vezes isso foi
ignorado. Os escravos trabalhavam principalmente em fundações domésticas
(incluindo sexuais), ou em serviços militares. Mas também podiam trabalhar na
produção, como por exemplo, nas minas de sal.
A abertura do atlântico ao
comércio na África proporcionou a esse continente um maior volume de transações
escravistas, além de retirar a África de certo isolamento comercial e porque
não cultural. A transformação que ocorreu internamente nos âmbitos escravistas
acompanhou a procura européia por escravos, bem diferente do trato com os
islâmicos.
Sabe-se que a escravidão se deu
muito antes da chegada dos islâmicos na África, porém com o tempo a escravidão
passou a ser uma instituição fundamental naquela sociedade.
Com essa expansão tornou-se
possível usar os escravos de novas formas, trabalhando na escala de produção de
bens, como o ouro, mercadorias agrícolas, manufaturados e o sal.
O autor explica que a influência
islâmica, o comércio com os europeus e a própria relação interna de escravos,
foi determinante no desenvolvimento da escravidão na África. Desse modo, a
escravidão tornou-se uma instituição e não mais apenas uma característica
periférica. Até o século XIX a escravidão foi determinante para mover as
sociedades, em seus aspectos políticos, econômicos e sociais.
O autor
confirma que a escravidão já existia na África o qual não existe provas de suas
características, mas que a influência do Islamismo e do mercado europeu e
muitos outros alteraram e desencadearam para um desenvolvimento políticos e
econômicos que afetaram a prática da escravidão. Deste movimento surgiram
sociedades escravocratas modificando a escravidão inicial. A África se torna
uma rede internacional de escravidão, os africanos escravizavam os seus
inimigos quando não existiam laços de parentesco o que favorecia os interesses
do mercado externo que fortalecia o crescimento político de alguns africanos no
continente. A ênfase é que os escravos não eram importados para África eles
eram exportados. Que forma uma estrutura de fornecimento escravos para o
mercado externo e o emprego interno na África.
A escravidão se relaciona coma escravização através do tráfico de e a
utilização dos cativos na própria África. Escravos tratados como mercadoria e
propriedade abasteceram o comércio exterior que era fundamental para economia
política de muitas regiões do continente que se estendeu até o século XIX.
A partir
do texto de Lovejoy “A África e a escravidão” podemos tirar algumas conclusões.
Um erro freqüente que ocorre no estudo do continente africano é associá-lo a
escravidão, segundo o autor não devemos pensar que esta é a única forma de
relação servil existente. A escravidão em si esta ligada diretamente a questão
étnica e religiosa, sendo apresenta as relações patriarcal e do fator islâmico.
Em geral a escravidão é colocada como uma
forma que algumas sociedades tiveram de garantir a supremacia perante outros
grupos étnicos e/ou religiosos. Por meio da violência, que se dividia entre
guerras, banditismo e seqüestro, não que houvesse exceções. Para o autor a
questão de escravidão segue a linha de pensamento de M.I.Finley, em que a
escravidão passa de uma situação de status à um papel essencial na economia por
meio do uso extensivo na produção. Assim podemos pontuar que a escravidão era
direcionada para a manutenção da dominação econômica e política do grupo
dominante. As escravidão estava associada a interação de um grupo étnico a
outro, dominante. É importante salientar que a escravidão varia com relação ao
grupo étnico e a região, e que diferenciam em algumas normas sociais.
Porem
a questão de dominação não estava apenas direcionado a economia e a política,
mas também na questão cultural. Sabe-se que a escravidão no islamismo, também
estava direcionada a prisioneiros de guerra e pessoas não-mulçumanos, dessa
forma o islã via a escravidão como uma forma de converter outras etnias a
religião mulçumana. Tanto nas sociedades ditas patriarcais, como islâmicas
tentavam impor sua cultura. Assim a escravidão também era uma maneira de
aculturação.
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