Palavra chave: resistência sub-reptícia, simulação e Trauma
Objetivo do autor: Recuperar a ação social dos índios,
restituindo-lhes a condição de sujeitos ativos e centrais num processo que
aparentemente os mantinha marginalizados. Mostra como os índios que haviam sido
derrotados militarmente simulavam obediência, passividade e servilismo para
salvar sua vida e sua cultura.
A resistência gera muitas formulações sobre os
indígenas e se estes eram “covardes ou valentes, brutais ou medrosos, (...) é
uma questão relativa a cada religião , ao grau de civilização(..)” (p.151).
Fernándes discordou destes, que qualificavam de covardes os indígenas,
referindo estes como valentes em sua luta, não sendo ingênuos ou medrosos,
concordando com este autor Diáz afirma que as armas destes eram boas e
perigosas. O padre Blas uma das importantes fontes, que revela a capacidade militar
e coragem dos indígenas peruanos.
A derrota militar não foi generalizado, já que em muitas regiões a
guerra foi prolongada e de exemplo os araucanos, que no aceitaram a paz no
século XIX. Em alguns lugares como Santo Domingo os índios desapareceram por
causa das guerras, revolta liderada pelo cacique. No século XVI mostra que a
conquista hispânica não fora tão passível ou tranqüila perante, as revoltas
indígenas contrario a esta dominação totalizando neste século catorze.
A resistência sub-reptícia
foi silenciosa na qual os índios
tramaram pacientemente no decorrer do tempo envolvendo os espanhóis numa
“armadilha” ,que estes mesmo criaram, invisível aos colonizadores que não
entendiam sua língua, signos e símbolos.
Na qual uma aculturação, conquista total dos vencidos e uma substituição
de culturas não ocorreu efetivamente pela resistência que destes vinham.
Ocorrendo de fato uma miscigenação, que surgiu uma nova sociedade arraigada das
suas tradições invisíveis aos espanhóis pelo uso da mentira que para muitas
comunidades era um ultraja a sua cultura. Sendo assim não houve uma
concretização plenamente da conquista hispânica de acordo com aquela que era
pretendida.
Mas, “plenamente” para os
espanhóis esse termo se concretizou já que, este sentido dava-se pelo processo
de civilizar o indígena, de acordo com as peninsulares, evangelizar os
idolatras “eliminando” assim sua religião; transformá-los em vassalos do rei e
extrair seus metais preciosos. Por estas
somente a ultima foi um fato consumado, pois os últimos foram de forma
superficial (jogo das mascaras). Não sendo só a credibilidade do “fracasso”,
por estes só terem se preocupado na extração de ouro e explorar os indígenas,
mas estes o terem uma ação (ao trauma da conquista e a morte dos deuses) de
oposição aos conquistadores, de maneiras diversas, começando com a militar
depois numa forma de inconsciência só que coletiva uma resistência sub-reptícia
e chegando ao extremo de romper com cultura e silenciando-se e “aceitando” de
forma pacífica essa situação de fácil domínio.
Na forma de colonização que
foi em nome de superioridade técnica, cultural, religiosa e política discutível
na forma de integração e comunicação entre os povos, mas tentar mostrar que,
mesmo entre os conquistadores e colonizados, os índios não perderam seu social ativo,
sendo estes capazes de fazer sua própria historia, de veivindica-la e tirando
as negatividades desta que foram colocadas pelos cronistas.
Quando Oviedo afirmava que
os indígenas eram preguiçosos ou bêbados ou Las Casas afirmava que eram
humildes e obedientes estes sugeriam em nossa leitura que estes estavam alem de
revelar sua resistência usando outra postura com mascaras. A ação dos vencidos era ignorada pelos
espanhóis pela hipótese de que esta versão se da pelos fatos e na visão dos
atos destes indígenas perante aos conquistadores manifestados pelos símbolos do
vencedor, sendo uma questão de tradução dos signos em uma ação de resgatar os
da outra. Portanto, não se trata de duas historias, mas de uma só cuja
simbologia era tanto visível quanto invisível.
Mesmo nessa historia de
genocídio e destruição de civilizações os índios sobreviveram, mas através da
simulação, o que não desmente o massacre nem dá razão aos atos cometidos pelos
conquistadores. E estes não eram tão pacíficos de dominação, obedientes ou
desenganados como dizia Las Casas, pois este interpretava as atitudes como irracionalidade dos
indígenas perante a superioridade espanhola( gostar dos indígenas não quer
dizer que este se comparava a estes) contradizendo Oviedo e Sepúlveda que davam
atribuições defeituosas, de mentirosos e covardes e sem notar que através
destas atitudes estes estavam num jogo teatral.
Neste sentido o silencio
foi uma arma usada na resistência pelo simples fato dos índios não quererem se
comunicar com os espanhóis neste sentido Las Casas afirmava que era de costume
não falar com aqueles que lhe causaram grandes danos sem enxergarem o real
motivo desse silencio. Com a “ruptura”
com sua comunicação era devida ao sistema simbólico abalado pelo trauma da
conquista já que estes sistemas eram diferentes. Tal silencio era a marca
indígena que manipulou seu ideológico, na medida em que o discurso do
conquistador era em cima do indígena.
“Ora, o silêncio,
como o oposto à linguagem formal da consciência,
é a via de expressão do inconsciente, lugar onde se refugiou o
desastre da conquista. Na forma de trauma(...) levou a ser o que nunca foram.
Aqui começa o jogo das mascaras”(1995, p.157)
Esta atitude foi devido ao trauma da conquista e pelo trauma
psicológico de alta proporção. Uma serie de atitudes que enganaram e
desorientaram os espanhóis já quês, estas não se demonstraram pela experiência
direta. Uma mudança psicológica que os fez inconscientemente resistirem a essa dominação
e assim estragaram os planos dos
espanhóis um, um dos aspectos que traçou esse perfil foi o aspecto psicológico
mais definido foi a teimosia revelando
assim, uma atitude de inconformismo e uma não aceitação da situação colonial.
Alem da teimosia a mentira foi se acentuando o instrumento de defesa para poder
sobreviver alem de si sua cultura, como nesta crônica “ sim senhor, eu já sou
um pouquinho cristão, porque sei um pouquinho mentir; amanha eu saberei muito
mentir e serei muito cristão”( 1995 p.167)
Outro traço deste jogo foi
a bebedeira com certo desequilíbrio entre estas sociedades relativo aos sinais
de comando e organização e os sinais de obediência e aceitação, essa relação
índio e bebida foi um jogo de trocas simbólicas entre as crenças do
conquistador e do conquistado (interpretações sobre o Deu e santos) foi essa a
forma de preservar a suas tradições e crenças impedindo assim a morte da
cultura. Podiam se vestir como espanhóis, mostrarem ser cristãos, e instruídos
em posturas “angelicais só era um meio de transparecer o real motivo desta
simulação assim convencendo os espanhóis de sua “total” submissão. Outro jogo
de símbolos foi o PULQUE, o copal o incenso que representava a volta do passado
longínquo.
A simulação dos
vencidos:
Vendo a interpretação que
Las Casas da aos índios este se negava a ver a resistência que argumentava o
que este via sem este entender os signos que estes demonstravam. Um exemplo era a fala dirigida aos espanhóis
que Las Casas defendia como sendo fala de confusão para os espanhóis por se
verem obrigados. Na realidade era uma fala no sentido figurado mostrando ai uma
fala de confundir, despistar o rela motivo desta simulação.
Este ato de fingimento para especular, como
ele mesmo escreveu, os costumes dos espanhóis e tirar proveito dessa situação.
Dizendo-lhes aos espanhóis, vendo que estes deliravam por metal precioso,
fizeram lendas, como o El Dorado é uma antiga lenda narrada pelos índios aos espanhóis na época da colonização das Américas. Falava de uma cidade cujas construções seriam todas feitas de ouro maciço e cujos tesouros existiriam em quantidades inimagináveis. A afirmação explicita que, num determinado
momento, os índios demonstram cordialidade e certa passividade frente a seres
enviados por seus deuses. Pode-se pensar, contudo, que essa passividade
posteriormente foi camuflada em resistência por falsas indicações de tesouros
em terras longínquas. A fundação de Castilla del Oro, cidade batizada com esse
nome, tem origem nas informações dos índios de que por ali havia um rio onde se
pescava ouro com redes. De resto os
conquistadores só pescaram piranhas.
”O sistema simbólico indígenas, que se
mostrou deficiente para decodificar os atos e intenções dos primeiros
conquistadores, agora desorientava a maior parte dos espanhóis.”(1995,
p. 169).
Já que os espanhóis eram alheios a cultura
indígena era difícil decodificar e entender as ações dos indígenas assim
fechavam os olhos para a outra religião e índios inferiores, acabando por si
não entenderem esses atos.
Esse foi o processo invisível da historia da
conquista aonde a metamorfose quase inteligível dos personagens e a comunicação
eram invisíveis e visíveis, eram encobertos por mascaras, atos sinuosos e
rasteiros deixando assim, enigmas em seu caminho. Um comportamento dos índios
foi imitar tudo em questão dos espanhóis
fantasiando assim nesse jogo: “foi a mimese do índio.”
Muitos percebiam esses movimentos de ocultar
sua idolatria, culto e superstições misturando-as com o cristianismo. Na
realidade o mundo dos indígenas estava arraigado desta idolatria no dia a dia
que não era vivenciado pelos espanhóis na casa eram idolatras, mas fora desta
eram cristãos mais inocentes como a semeadura na colheita. Outra forma foi o
desconhecimento da língua indígena pela maioria dos espanhóis alem destes
índios criarem outras simbologias para seu sistema de linguagens. Mesmo
impondo-lhes a língua dos conquistadores, o império afirmava sobre sua primeira
base solida a língua materna.
Uma forma de resistência foi à mistura das
duas religiões (colibris) ligando-as
para sobrevivência inconsciente da cultura indígena. Na qual os cristãos não
entendiam, praticavam os ritos, mas visando seus deuses. Cristãos ou não os
índios usaram sua linguagem, festas, embriague, para manter vivas suas
tradições passando-as pela oralidade diferenciando dos espanhóis. Mesmo de
forma inconsciente a simulação alcançou de propósito bem acentuada.
Essa simulação foi também usada pela alta
nobreza para adesão de certos privilégios. Mas, também das camadas inferiores
de diversas razões. Não foi talvez a pratica acentuada dos índios de encomenda
que vivia no isolamento sua simulação servia de encobertar sua idolatria por
trás da aparente cristianização.
“Em termos gerais, os índios foram acentuando
a seus costumes (...) enriqueciam sua própria cultura e a faziam mais dúctil
aos embates da cultura de dominação, mas também essas incorporações serviam como
uma espécie de camuflagem” ( N. Wachtel, p. 239)
“Quando perguntavam sobre o governo inca
respondiam que este era rigoroso e disciplinado, com castigos pra quem
descumprisse a lei ( roubar, mentir e embriagar-se), em outras situações quando
os índios eram interrogados respondiam que eram mentirosos, adúlteros,
perjuros, delinquentes, por causa dos espanhóis que os deixaram sem lei,
justiça, liberdade, e autoridade para castigar os vícios”. De certo modo
estavam formulando uma critica sobre esta ordem estabelecida.
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